Henrique Oswald (1852-1931) e Leopoldo Miguez (1850 –1902)
Um dia, há alguns anos, um amigo, compositor e musicólogo, me perguntou se além de Villa Lobos e outros compositores nacionalistas eu tocava o repertório romântico brasileiro. Confesso que realmente havia me concentrado no período após Villa Lobos.
Uma semente estava plantada. Sem que me desse conta, um trabalho silencioso começou a se realizar dentro de mim.
Que romantismo é esse? Quais compositores? Como seria esta música romântica brasileira? Que universo sonoro é este que desconheço?
Saí a procura de gravações e me deparei com uma certa escassez. De Alberto Nepomuceno encontrei gravações, e um CD com algumas obras de Henrique Oswald. Fora isto pouca coisa havia sido feita ou sobrevivido ao tempo.
Não me desanimei, pois o pouco que ouvi aumentou ainda mais a minha curiosidade.
Parti em busca de partituras na Escola Nacional de Música e na Biblioteca Nacional, de visita em visita mergulhei neste mundo esquecido e me maravilhava com o que descobria. Como um trabalho de arqueologia, melodias lindas, harmonias sutis e elaboradas me foram reveladas. Estavam diante de meus olhos formas equilibradas e um saber musical da mais alta qualidade.
Uma sensação de injustiça surgiu dentro de mim, que me levou a indagar: “Porque esse universo foi esquecido?”
Fiquei orgulhoso de saber que no Brasil tínhamos tido uma inspirada “Escola Romântica de Piano”.
Diante de tantos compositores deste período, optei por Leopoldo Miguez e Henrique Oswald.
Como ocorre com todas as escolhas, ela foi conduzida por razões objetivas e outras subjetivas que não saberia racionaliza-las.
Escolhi dois universos musicais muito distintos, Leopoldo Miguez pela sua escrita pianística me faz pensar em Liszt e Chopin. Tendo sido um grande improvisador, assim como Liszt, soube transformar os temas, revelando novas facetas e sonoridades através de mudanças harmônicas, rítmicas e melódicas.
As formas musicais utilizadas por Leopoldo Miguez: noturnos; mazurkas e scherzos, assim como as longas frases plenas de emoção e dramaticidade me levam a Chopin, mas possuem uma originalidade musical que lhe é própria.
Já Henrique Oswald tem um mundo estético e sonoro completamente diferente do universo de Leopoldo Miguez, podemos situa-lo como um compositor entre o romantismo e o impressionismo.
Tendo vivido muitos anos na Itália e na França, Henrique Oswald se impregnou profundamente das harmonias de Fauré, Duparc e Debussy. A influência de Shumann também se faz presente em determinadas peças mais agitadas.
O que mais me fascina na obra de Henrique Oswald é a riqueza e a sutileza das sonoridades, que acabam sendo parte integrante e fundamental do discurso e da estrutura musical de suas composições.
Leopoldo Miguez e Henrique Oswald me revelaram um saber musical e um conhecimento harmônico do mais alto nível.
Tive um imenso prazer no encontro e no estudo dessas obras, que desejo que sejam redescobertas pelos pianistas e jovens músicos.