domingo, 5 de agosto de 2012

Imagens Musicais


Claude Debussy

Estampes et Préludes 1º Livro

A obra para piano de Debussy é bastante tardia apesar de ocupar um lugar muito impor­tante na sua produção musical. Com exceção de algumas peças da sua juventude (Dança bohemia, Arabesques, etc.) e outras de transição (Suite bergamasque, Imagens inéditas, Pour le piano) é somente a partir de 1903, com 41 anos de idade, que Debussy atinge o apogeu e a maturidade nas suas composições pianísticas, às quais dedicará a maior parte do seu tempo, até o final de sua vida. Esta última fase, Debussy morre em 1918, coincide com uma verdadeira metamorfose da arte do piano, da qual ele e Ravel serão os princi­pais instigadores. A relação entre os dois compositores foi sempre complexa e de muita rivalidade. O pianista Ricardo Vinès, amigo de ambos, exerceu, em virtude de suas interpretações, uma importante influência sobre a escrita pianística dos dois compositores. Foi Vinès que, entre 1901 e 1913, revelou quase todo o repertório pianístico de Debussy e Ravel, como Estampes e muitos Prelúdios. Seu estilo e toque chegou até nós por Francis Poulenc, que foi seu discípulo. Segundo Poulenc,"o jogo de pedais, fator essencial da músi­ca moderna, era ensinado como ninguém por Vinès", e acrescenta: "ele conseguia tocar claramente dentro de uma nuvem de pedais". Esta frase nos leva a pensar em outra frase de Debussy que repetia sempre a Marguerite Long, "nós temos de esquecer que o piano tem martelos". Isto nos faz mergulhar no verdadeiro universo preciso de Debussy, basea­do nas pesquisas das cores e na riqueza sonora do piano. Universo que foi impropria­mente classificado de impressionista. De fato Debussy, numa carta a seu editor, Jacques Durand, fala:"0 que os imbecis chamam de impressionismo, termo mal empregado, sobretudo pelos críticos, que não hesitam nem mesmo em designar Turner como tal, o maior criador de mistério na arte". Turner é seu deus na pintura! É este mistério que ele tam­bém procura, e que habita as suas obras pianísticas. E a partir de 1903 que ele compõe Estampes. Debussy, dando a última mão no seu manuscrito, escreve à André Messager: "Quando não temos os meios de viajar temos que suprir com a imaginação", e através de uma força evocativa prodigiosa ele consegue nos levar ao Extremo Oriente em sua com­posição chamada Pagodes. Ele havia descoberto na Exposição universal de 1889 o "game-lang balinês", orquestra indonesiana formada exclusivamente de percussões, que o entusi­asmou e inspirou esta peça; baseada nas teclas pretas do piano, por sua genialidade evita completamente o pastiche que poderíamos temer em vista do título. Debussy, com "La soirée dans Grenade", nos leva à Espanha, que ele não tinha visitado até então, isto ocorre posteriormente por uma estadia muito curta no final de sua vida. Esta evocação de uma noite Andaluza, provocou a admiração de Manuel de Falia: "A força evocadora concentra­da nestas páginas, é prodigiosa, quando pensamos que esta música foi escrita por um estrangeiro orientado unicamente pela visão da sua genialidade".
Com "Jardins sous la pluie" ele nos traz de volta à Paris. Numa primeira versão de 1894, muito diferente da versão definitiva, ele havia intitulado esta peça de "Alguns aspectos de nós não irão mais ao bosque porque está fazendo um tempo horrível". Se trata de uma Tocata a respeito da qual Debussy precisou que "Não é proibido colocar a sensibilidade dos bons dias de chuva". Se com Estampes o compositor encontrou sua linguagem e seu estilo, é com os Prelúdios que atinge realmente a plena maturidade. Quando sabemos da lentidão de Debussy para compor e a preguiça para se pôr ao trabalho, ficamos espanta­dos em constatar que ele escreveu este primeiro livro de Prelúdios em menos de três meses. O mais antigo “Danseuses de Delphes”, data de 7 de dezembro de 1909, o mais recente, "La danse de Puck", é de 4 de fevereiro de 1910. Alguns foram compostos em um só dia como "Le vent dans la plaine", "Voiles", "Les collines d'Anacapri", e "Des pas sur la neige". Tudo nesta obra é cheio de mistério e poesia. É habitada por paisagens, sensações, personagens estranhos, palhaços, seres sobrenaturais, silhuetas irreais. Debussy, que apesar de ser muito preciso na sua escrita musical, foge do detalhamento minucioso para deixar agir a imaginação do ouvinte. Ele só propõe no seu manuscrito os títulos evocadores no final de cada peça, para que cada um sonhe de sua maneira. Ele mesmo escreve a respeito de Voiles, para evitar qualquer interpretação naturalista ou terra a terra: "Não se trata de uma foto de praia, um cartão postal do 15 de agosto". A sua música é poesia pura, é o mundo de Baudelaire, de quem tomou emprestado os títulos de "Le sons et les parfums tournent dans 1'air du soir".
É de olhos fechados, que poderemos ver, sentir, e ouvir, a realidade que ele nos propõe. É um mundo de beleza, e irrealidades, um universo poético pelo qual, nos deixaremos levar. Cito, para finalizar, a análise de Jean Cocteau: "Debussy existia antes de Debussy. É uma arquitetura que se reflete na água, nuvens que se formam e se desfazem, galhos que adormecem, a chuva nas folhas, ameixas que caem, morrem e sangram ouro. Mas tudo isto murmurava, balbuciava, e não tinha encontrado uma voz humana para dizê-lo. Mil mara­vilhas da natureza encontraram finalmente o seu tradutor".

Arnauld de Froberville


L'œuvre pour piano de Claude Debussy, qui occupe une place très importante dans sa production musicale, est assez tardive. A part quelques oeuvres de jeunesse (Danse bohémienne, Arabesques, etc..) et quelques oeuvres de transition (Suite bergamasque, Images inédites, Pour le piano), c'est seulement à partir de 1903 - il a alors 41 ans - qu'il atteint la maturité et l'apogée dans ses compositions pour piano, auxquelles il consacrera jusqu'à la fin de sa vie le plus clair de son temps. Cette dernière partie de sa vie - il mourra en 1918 - coïncide avec une véritable métamorphose de l'art du piano, dont il est le principal instigateur avec Ravel. Les relations entre les deux compositeurs furent souvent complexes et difficiles, mais leur ami intime commun, le pianiste Ricardo Vinès, eut probablement par son jeu une influence sur leur écriture pianistique. Ce fut lui qui, entre 1901 et 19 I 3, fit connaître presque tout le répertoire pour piano de Debussy et Ravel. Il fut entre autres, le créateur des Estampes et de plusieurs Préludes. Son style de jeu nous est rapporté par Francis Poulenc, qui fut son élève: "Le jeu des pédales, ce fac­teur essentiel de la musique moderne, personne ne l'enseignait mieux que Vinès", et il ajoute qu'il "arrivait à jouer clair dans un flot de pédales". Cette phrase est à rapprocher de celle que Debussy lui-même répétait à Marguerite Long: "Il faut faire oublier que le piano a des marteaux". Nous sommes là vraiment dans l'univers debussyste, basé sur les recherches de couleurs et la richesse sonore du piano, univers qu'on a improprement qualifié d'impressionniste. En effet, Debussy dans une lettre à son éditeur Jacques Durand parle de "Ce que les imbéciles appellent impressionnisme, terme aussi mal employé que possible, surtout par les critiques qui n'hésitent pas à en affubler Turner, le plus beau créateur de mystère qui soit en art".Turner, voilà son dieu en peinture! C'est le mystère qu'il recherche lui aussi, et qui parcourt son œuvre, particulièrement son œuvre pianistique à partir de 1903. C'est de cette année-là que datent les Estampes. Debussy, mettant la dernière main à son manuscrit, écrit à André Messager: "Quand on n'a pas le moyen de se payer des voyages, il faut suppléer par l'ima­gination". Il nous emmène d'abord, avec sa force d'évocation prodigieuse, en Extrême-Orient avec Pagodes. Il avait découvert à l'Exposition universelle de 1889 le gamelang câli­nais, orchestre indonésien formé exclusivement de percussions, qui l'avait enthosiasme, et qui lui a inspiré cette pièce, basée sur les touches noires du piano, et qui par son génie évite complètement le côté pastiche qu'on aurait pu craindre au regard du titre.
Puis Debussy, avec La Soirée dans Grenade, nous entraîne en Espagne où il n'est jamais allé, sauf un très court séjour à la fin de sa vie. Cette évocation d'une nuit andalouse a provoqué l'admiration de Manuel de Falla qui écrit: "La force d'évocation concentrée dans les quelques pages de La Soirée dans Grenade tient du prodige quand on pense que cette musique fut écrite par un étranger guidé par la seule vision de son génie".
Avec Jardins sous la pluie, il nous ramène à Paris. Dans une première version de 1894, très différente de la version définitive, il avait intitulé cette pièce: Quelques aspects de "Nous n'irons plus au bois" parce qu'il fait un temps épouvantable. Il s'agit dans la version de 1903 d'une Toccata à propos de laquelle Debussy précisait qu' "il n'est pas défendu d'y mettre sa sensibilité des bons jours de pluie". Si, avec les Estampes, le compositeur a trouvé son langage et son style, c'est vraiment avec les Préludes qu'il atteint sa pleine maturité. Quand on sait la lenteur avec laquelle Debussy composait et sa paresse pour se mettre au travail, on est étonné de constater qu'il a écrit ce premier Livre des Préludes en moins de trois mois. Le plus ancien, Danseuses de Delphes, date du 7 Décembre 1909, le plus récent, La danse de Puck, est du 4 Février 1910. Certains ont même été composés en une seule journée comme Le vent dans la plaine, Voiles, Les collines d'Anacapri et Des pas sur la neige.Tout, dans cette œuvre, est nimbé de mystère et de poésie. Ce sont des paysages, des sensations, des personnages étranges, clowns, êtres surnaturels, silhouettes irréelles. Debussy, s'il est précis dans son écriture, fuit la précision descriptive pour laisser vaguer l'imagination de l'auditeur. Il ne propose ses titres évocateurs qu'à la fin de chaque morceau dans son manuscrit pour laisser chacun rêver à sa façon. Il écrit lui-même, à pro­pos de Voiles, pour éviter toute interprétation naturaliste ou terre-à-terre: "Ce n'est pas une photo de plage, une carte postale pour le 15 Août". Sa musique est de la poésie pure, c'est le monde de Verlaine ou Baudelaire, à qui il a emprunté le titre Les sons et les parfums tournent dans l'air du soir
Il faut, les yeux fermés, voir sentir écouter goûter le monde qu'il nous propose, celui de la Beauté, de l'Irréel, et se laisser emporter dans son univers poétique.
Citons, pour finir, l'excellente analyse de Jean Cocteau: "Debussy existait avant Debussy. C'est une architecture qui bouge à l'envers dans l'eau, de nuages qui se construisent et qui s'écroulent, des branches qui s'endorment, la pluie sur le feuilles, des prunes qui tombent, qui se tuent et qui saignent de l'or. Mais tout cela murmurait, bégayait, n'avait pas trouvé une voix humaine pour le dire. Mille vagues merveilles de la nature ont enfin trouvé leur traducteur".

Arnauld de Froberville